São Paulo - Uma coisa é certa. Nunca mais tiro férias em janeiro de um ano eleitoral.
Politicamente, é um início de ano tão movimentado que até os domingos tem ritmo de segunda. A definição do nome de Estelizabel Bezerra como substituta do prefeito Luciano Agra na disputa pela prefeitura de João Pessoa fez o celular do signatário deste blog tocar com tanta freqüência nesta quarta que deu a impressão que nem desligando ele iria parar.
Não é por menos. Logo após o “susto” da renúncia de Agra, a expectativa mais óbvia perguntava sem parar: “Quem será o substituto?”.
Bom, ao menos da parte do governador Ricardo Coutinho, e do PSB, será, então, a secretária de Planejamento de João Pessoa, Estelizabel Bezerra, um nome já recorrente na boca de quem há muito ousava tratar do assunto.
De cara, meu atestado sobre a antecipação do anúncio de Estela, já que todas as fontes oficiais apontavam para o dia 23 em diante.
O PSB e o governador Ricardo Coutinho precisavam urgentemente brecar o clima de UFC que se formou internamente antes de patrocinar uma das mais fratricidas brigas após saída daqueles que não rezavam na cartilha de Ricardo.
Em suma, pra evitar que o coletivo se engalfinhasse, o governador quis colocar logo um ponto final. Com o anúncio de Estelizabel, o governador pensa em, ao menos teoricamente, frear o cenário beligerante entre os seus liderados.
A partir de agora, quem ousar sequer criticar Estelizabel dentro do PSB, terá lugar certo na Black List de Sir Ricardo Coutinho.
Pegando o gancho, Ricardo vai aproveitar também para avaliar a posição de lideranças e partidos aliados que andaram dizendo “Se não for Agra, zeramos o jogo”. A cada posição contra Estela, o aliado perderá um ponto. Ninguém, se quiser continuar aliado ao governo e à prefeitura de João Pessoa, sairá impune de uma postura autônoma frente a Estelizabel.
Além disso, fontes – e indícios - apontam para outra estratégia por parte de Ricardo. Ciente da ressurreição de Agra após a renúncia, o grupo do governador tem o privilégio de testar uma nova candidatura até junho, podendo substituí-la caso ela não emplaque até o momento por um “Plano de B de Luxo”, o prefeito Luciano Agra, que deverá gozar de ainda melhores índices de gestão na porta da eleição. Isso não pode ser revelado, obviamente. Se acontecer, tem que ser naturalmente.
Bom, por outro lado, é claro que a antecipação da escolha de Estelizabel tem um laivo de autoritarismo. Especialmente porque, em programa de televisão e rádio, gravado pra todo mundo ouvir, os dirigentes do PSB reafirmaram que a escolha passaria pelo crivo das legendas aliadas.
Nesta quinta, o PSB vai dizer, caros amigos, que antecipou porque não poderia encetar um diálogo com as legendas aliadas sem um nome definido. Bom discurso, mas pouca consistência. Estelizabel já vem ao cenário com um dos melhores padrinhos: o governador Ricardo Coutinho. Quem terá coragem de confrontá-la?
Ao que parece, pelo menos até agora, essa tal de discussão com os partidos não passará da mesma discussão travada quando da escolha do vice-prefeito de Ricardo em 2008. Foi criado até um Conselho Político para que muitos pudessem escolher o que apenas um já havia definido.
Caberá aos partidos aliados, em especial, o PPS que já lançou o nome do secretário de Comunicação do Estado, Nonato Bandeira, acreditar no que foi prometido.
Ora, teoricamente, foi o PSB quem escolheu seu candidato. Não o grupo. Dentro da discussão, cada partido indica um nome e o grupo, analisando a todos conjuntamente, definirá qual o melhor.
Não foi isso o combinado?
Do seu lado, Estelizabel tem que correr contra o relógio. Ao mesmo tempo que deve se esforçar pra desarmar os octógonos montados no UFC do PSB, ela tem que conter o avanço dos nomes de aliados fora do seu partido.
Estelizabel, como já dissemos no primeiro artigo pós-renúncia de Agra, conhece bem a gestão do PSB em João Pessoa. Sabe, inclusive, vendê-la bem. Não é à toa que sempre caiu nas graças de Ricardo. Talvez por isso, e por outras cositas mais, tenha criado certa resistência dentro do próprio coletivo.
Mas o fato é que ainda é uma incógnita eleitoral. Nunca foi testada nas urnas e não se tem pesquisas, estudos ou análises sobre o grau de empatia que Estelizabel junto ao eleitorado. O que sempre votou em Ricardo. E o que está esperando um bom candidato.
Só se pode dizer que não é conhecida. Mas isso não é um privilégio apenas dela. Os outros nomes também, neste requisito, não gozam da fama, assim como desfruta Luiza, por exemplo.
O que não dá pra dizer que é bom, também não dá pra dizer que é ruim. Estelizabel é, de fato, uma incógnita. Tem potencial pra defender. Tem pra bater? O que não se sabe, portanto, é se tem potencial a mais do que as outras opções do grupo. E, muito menos, se une mais que os demais pretensos candidatos da base.
Eis, então, algumas dúvidas para ela dirimir.
De toda forma, Ricardo Coutinho não saiu de Jaguaribe na década de 90 sem ter um pau pra dar num gato, sem padrinho rico nem tradição política e chegou a governador do Estado simplesmente por sorte.
Ante que a oposição comemore e coloque o sapato alto na véspera, é bom saber que Ricardo não é ortodoxo, mas também sabe fazer política.
Por isso mesmo que os seus esperam tanto que ele acerte sempre. E se remexem freneticamente somente diante da possibilidade de vê-lo, eventualmente, errar.
Luís Tôrres