Disseminado pelo empresário Daniel Cosme, o tal Escândalo dos Livros ganhou nesta quinta, durante sessão na Câmara de João Pessoa, contornos de uma ficção kafkaniana, onde se tem o culpado, mas não se encontra o crime. Personagens para compô-la não faltam.
Protagonista da história (ou estória), apesar de agressivo, Daniel revelou-se acuado diante do confronto. Entrou no enredo acostumado a falar sem um replicador. Foi assim quando abriu a boca na Época e quando abriu a boca na Assembleia. Ninguém dizia: “Calma aí!”
Sempre falou à vontade, evitando diálogos, como se estivesse num livro de Saramago. Acostumou-se a denunciar sem contestação. Hoje, uma surpresa. A presença do tal ex-sócio, o Pyetro Félix, o fez procurar a saídas como se na cova dos leões estivesse.
Daniel foi à Câmara de colete a prova de balas, mas esqueceu que os disparos que partiram de Pyetro não atingem o peito: mas o moral. E a de Daniel saiu baixa. Tanto que vereadores de oposição tiraram o pé do acelerador quanto às denúncias que recaem diretamente sobre a prefeitura de João Pessoa ou seus personagens.
“Tá vendo que eu acertei quando não queria a CPI”, afirmou Fernando Milanez, para quem Daniel e Pyetro são duas figuras que merecem investigação da Justiça por serem, ambos suspeitos.
O fato é que durante mais de três horas de sessão todo o debate ficou resumido a discussão sobre se o Pyetro tinha ou não poderes legais para atuar, responder e receber pela empresa que vendeu os livros a prefeitura.
Por algum tempo, quem fechasse os olhos se imaginaria numa audiência de conciliação entre dois ex-sócios na Justiça.
Em sua curta palavra, a prefeitura disse que realizou o procedimento licitatório, aprovado pelo TCE, e pagou a quem mostrou documentos dizendo que poderia receber. O tal Pyetro mostrou procuração e ainda um cartão de banco alegando que era titular da conta da New Life de Daniel. E provocou: Por que Daniel não processa atrás do dinheiro desviado? Por que não processo o Banco do Brasil acusando-o de pagar a quem não deve? E por que não processo o cartório por supostamente falsificar a assinatura de Pyetro?
Quem assistiu a toda sessão pôde constatar que a denúncia de que o dinheiro foi desviado para a campanha de Ricardo Coutinho em 2010 não mereceu um capítulo à altura.
E não mereceu porque faltou roteiro documental pra Daniel continuar a história. E sem documentos não se faz uma boa acusação. No, máximo, um bom barulho.
Todo empresário tem direito de ir atrás de seu dinheiro sentindo-se lesado em alguma operação. A quebra de sigilos bancários, a resposta oficial do Banco do Brasil e os exames grafotécnicos podem ajudar a resolver isso.
Daniel errou apenas quando ultrapassou o tema, levando-o para o campo político-eleitoral. Falando em coisa que não tem como provar.
Não receber o dinheiro é uma coisa. Acusar o ex-sócio de ter falsificado procurações para receber em nome dele e fugir com a grana também. Agora, engolir corda, Deus sabe lá de quem, pra transformar um suposto “golpe” em escândalo político foi seu erro.
Alguns vereadores de oposição notaram isso. Deram sinais de recuo. Ninguém quer entrar numa história sobre livros fazendo papel de bobo.
Luís Tôrres
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