Pergunte a um homem que mora no sítio no meio do mato, distante 600 quilômetros da capital mais próxima, sofrendo dores renais de madrugada, se ele tem problema em ser atendido por um médico cubano na falta de um médico brasileiro.
Óbvio que não. Somente isso já seria suficiente pra que encaremos com olhar menos armado a questão do governo federal em fechar parceria no sentido de trazer seis mil médicos cubanos para atuar nas áreas mais longínquas e carentes do Brasil, e elas são muitas.
É óbvio também – e até clichê – dizer que o mais correto é melhorar as condições salariais e de trabalho dos médicos nos lugares mais carentes a fim de se assegurar a assistência médica no local e blá, blá, blá, blá, blá, blá.
E, que dessa forma, o governo procura resolver o problema pelo lado relativamente mais fácil, apostando nos fins e não nos meios. Ok. Concordamos. Mas, infelizmente, a questão é bem mais complexa.
Levar um médico para o interior do Brasil é mais difícil que levar um monge ao bordel. E não venha falar em questão salarial. Algumas prefeituras, conforme os próprios médicos atestam, chegam a oferecer mais de R$ 20 mil. Mesmo assim não atraem. E não atraem porque, no geral, ninguém quer trabalhar longe de locais economicamente desenvolvidos.
Os médicos falam em falta de condições de trabalho e também de benefícios trabalhistas, já que, apesar dos altos salários, não há carteiras assinadas, nem concursos públicos com garantias de valores altos.
Em parte, tem razão. Mas não está provado que isso daria resultado tão rápido e garantido como se prevê. Ora, lugar longínquo e carente já está dizendo o que é: significa morar e trabalhar num lugar pobre e para pobre, por mais equipado seja o hospital em que o médico trabalhe. .
É o mesmo que ser escalado pra trabalhar na Faixa de Gaza. O lugar é inóspito e será inóspito não importe o quanto você ganhe na carteira. Assim, um médico, que tem uma profissão que o permite jantar nos melhores restaurantes e dormir nas melhores casas, não tem como se sentir bem longe dos luxos de uma capital, ou de uma região desenvolvida, e da família. É uma questão pessoal. Não de recursos.
Os médicos cubanos estão mais acostumados. São exportados para 70 países. E boa parte deles não aceita os limites impostos pelo regime cubano.
Ao contrário, pelo que parece, para um médico brasileiro, é melhor ganhar R$ 8 mil e morar em Boa Viagem, em Recife, Pernambuco, do que R$ 20 mil e morar em Guaribas, no Piauí. Basta analisar os dados sobre a distribuição médica no Brasil.
Em 2011, dos quase 372 mil médicos registrados no Brasil, aproximadamente 209 mil estavam concentrados na Região Sudeste, e pouco mais de 15 mil na Região Norte.
Somente quando o Brasil puder tansformar Uiaraúna em Dubai é que os médicos brasileiros vão se sentir atraídos por trabalhar longe de suas famílias, em lugares que o tempo parece não passar desde a época do descobrimento do Brasil.
Mas o homem do sítio com pedras nos rins não pode esperar. Ele quer ser atendido logo por um médico, seja ele cubano, espanhol, africano, russo...
Porque a doença não vê nacionalidade.
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