Sempre que estivermos atendendo uma criança, temos que prestar atenção a múltiplos fatores, dentre eles como é a dinâmica familiar, como a criança é vista dentro de sua família, como ela está inserida na escola e nos seus relacionamentos com os colegas, sua sociabilidade em geral, seus interesses e como ela utiliza o seu tempo.
Uma anamnese muito detalhada dos pais e irmãos é o primeiro ponto-chave para um tratamento infantil eficaz, pois como sabemos, muitas vezes não adianta tanto tratar a criança sem oferecer suporte, conhecimento, psicoeducação a esses pais, ensinando a eles como lidar com a criança e com os sintomas que ela apresenta, sendo, portanto, ideal um bom vínculo com a família e saber também do seu histórico de saúde.
É muito importante a divulgação para a sociedade das diferenças entre o tratamento da saúde mental do adulto e o da criança. Ainda é um mito muito comum as pessoas acharem que criança não fica deprimida, não sofre e que não tem preocupações. Ainda fica muito presente a ideia da preguiça, do comodismo, da burrice ou da falta doença força de vontade. É só pensarmos no TDAH para vermos como essa situação é comum. O tratamento da criança é fundamentalmente multidisciplinar. Não raro, quase sempre, precisamos de pelo menos três profissionais especialistas em tratar crianças. Por exemplo, no caso acima, é fundamental a integração do psiquiatra infantil com o psicoterapeuta infantil e o terapeuta de família. Quando tratamos crianças e adolescentes com transtornos sérios de aprendizagem, retardo mental e crianças com transtornos do espectro autista, vamos precisar também da fonoaudióloga e da psicopedagoga além do restante da equipe descrita acima. Para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade com presença de comorbidades, lembrar sempre de tratar primeiro as comorbidades. Sempre temos que manter o contato com a escola, pois muito frequentemente vamos precisar juntar todas as visões da criança, através de todos aqueles que lidarem com ela, de algum modo. Não podemos esquecer que criança não é um adulto em miniatura, como muitos pensam.
Só após algumas consultas com os pais, a própria criança e com a escola é que podemos traçar um plano de tratamento para aquela criança. Quando medicamentos forem necessários, serão prescritos e certamente serão de grande valia para a criança e até para a família, que fica mais aliviada vendo que o filho/a está mais calmo/a, concentrado/a, menos agressivo/a, menos deprimido/a ou ansioso/a e por aí vai. Muitos casos são de natureza biológica, familiar, genética e nesses casos, muito comumente precisamos prescrever medicamentos controlados para a criança. E eles são muito bons e eficazes. Sempre dentro do tratamento em equipe. Um profissional sozinho não trata uma criança, só em casos específicos e iniciais, sem comorbidades.
Segundo o Dr. Joel Rennó Jr, Doutor em Psiquiatria pela USP, não podemos nos esquecer que antes de medicar uma criança devemos ter em mente que o jeito dela sentir, entender e expressar-se difere do adulto. Portanto, o conhecimento sobre sua maturidade e desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC), assim como sobre suas experiências acumuladas ao longo da vida é essencial na determinação da necessidade de tratamento farmacológico.
Em relação ao uso de antidepressivos na infância, ele diz que crianças diferem dos adultos tanto do ponto de vista neuropsicológico, quanto em relação à absorção, excreção e metabolização dos antidepressivos. Tradicionalmente, os antidepressivos mais comumente utilizados em crianças e adolescentes se restringem aos antidepressivos tricíclicos, aos serotoninérgicos (que atuam sobre o neurotransmissor serotonina) e mais recentemente a bupropiona (que atua também sobre o neurotransmissor dopamina).
Os sistemas de neurotransmissores como a noradrenalina e dopamina só estão inteiramente desenvolvidos no final da adolescência. Já o sistema do neurotransmissor serotonina amadurece mais cedo. Esses dados sugerem que as crianças podem responder melhor aos antidepressivos serotoninérgicos (fluoxetina, sertralina, citalopram).
Felizmente, as pesquisas em neurogenética, neuroimagem e neuropsicologia têm avançado muito nos últimos anos e estão mudando dramaticamente o modo como nós entendemos os transtornos mentais na infância e adolescência.
Fonte: minhavida.com.br
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